Observei a quantidade de combustível. Menos de meio tanque.
Optei por seguir até a reserva, deixando para abastecer bem pra frente, já adiantado no
litoral catarinense, onde os preços seriam um pouco menores. No RS estava
assustado com o que cobravam pela gasolina aditivada. Em Santa Maria, paguei
4,29 reais o litro! Ainda bem que a média de consumo do meu veículo é ótima, senão só o petróleo te consome boa parte do orçamento numa viagem um pouco maior.
450 km era o que eu tinha que andar até São Francisco do
Sul. Faltaria apenas uma cidade, um pouco mais adiante, para eu
percorrer de ponta a ponta a nossa faixa litorânea. Itapoá.
Em 5 horas eu estava em São Chico, a cidade mais antiga de
SC e uma das primeiras a receberem povoamento no Brasil.
O início da colonização data de 1658, por Manoel Lourenço de
Andrade. Então na parte antiga você encontra um patrimônio arquitetônico bem
diferente, arquitetura portuguesa da época colonial. Destaca-se aí a Igreja,
com 350 anos, o mercado público e outros ambientes. Em condições boas de
conservação.
São Francisco movimenta uma boa quantidade de mercadorias,
que chegam e saem através de seu porto. Um dos principais de SC. Está numa
região muito boa para ancoragem de navios, conhecida como Bahia de Babitonga. Foz do rio Palmital com o encontro do mar.
Curiosamente, foram os franceses que deixaram os primeiros
registros de terem aportado em terras catarinenses. Isso em 1504, onde Binot Palmier de Gonneville, um capitão francês, descobriu nesse local, boas condições de aportar
e reparar seus navios, depois de avarias em tempestades de alto mar. Na época
esses homens passavam meses e até anos em navegações de exploração. Era o
século XVI, época das grandes navegações. América recém descoberta. Muitos se
lançavam ao mar para descobrir ainda mais.
Esses franceses além de reparar os navios, acharam
boas condições de água potável, alimento e tiveram amistoso contato com os
índios carijós, que ocupavam o nosso litoral. Ficaram várias semanas segundo o
que consta na história. Quando seguiram viagem, dizem que um índio os
acompanhou e nunca mais retornou, depois de ter casado na França.
Queria conhecer o Museu Nacional do Mar. Local bem
organizado. Nos apresenta logo na chegada a história dos barcos baleeiros,
responsáveis por trazer à morte milhares de baleias, destinadas a produção de
óleo, utilizado para as mais diversas finalidades, entre elas a iluminação.
Pode-se dizer que foi a primeira atividade industrial do nosso estado, como fora em outros lugares também.
Li uma história triste. Esses caçadores,
tornaram-se especialistas em atrair os filhotes das baleias, e mantê-los de
certa forma presos. A mãe vinha para defender o filhote. E era recebida por
todos os lados com arpões e outras armas afiadas. À deixavam na exaustão.
Depois terminavam de matar. Fatos que se
repetiam pelo litoral do mundo todo praticamente, levando a população mundial
das baleias, próximo da extinção.
Embarcações de épocas diferentes, lugares diferentes. Várias
regiões do Brasil. Uma atração interessantíssima. Mas não tenha muita pressa, passe com calma pelas galerias e leia alguma coisa.
Amyr Klink tem uma sala especial, mas em virtude de
reorganização e reparos, não pude ver. Algo sobre sua trajetória acaba sendo
encontrada em outro ambiente. Pessoa singular, pelo que já pôde fazer em
termos de viagens e explorações. Entre elas, a volta completa em torno do polo
sul, nos 360º, em solitário, a bordo do seu veleiro Paratii. Obviamente que
quando vi o relato dessa aventura - no livro Mar sem Fim - disponível para venda,
tratei logo de adquirir. Recomendadíssimo. Inspirador. Informativo.
Pude passear pelo lugar, caminhar um pouco pelo centro
histórico. Visitar a igreja. Aproveitei para fazer um lanche no mercado
público. Comprei um dente de tubarão para o Heitor numa banca! Verdadeiro, o
casal que vendeu me garantiu que procede da costa africana.
Julguei que havia feito o que queria. Caminhei para onde deixei
o carro. Pensava em voltar para casa dali. Encerrando a semana na estrada.
Voltava com chuva. Estava bem cansado. Passei por Jaraguá do
Sul perto das 20 horas. Era caminho em direção a Blumenau, onde mora minha tia
lili.
Cheguei para tomar um café pensando em continuar depois. Não
me deixaram. Os tios estavam certos. Era melhor eu dormir ali, descansar e ir
no outro dia.
Assim eu fiz. Durante a noite mudei meus planos, colocando
outro destino para o dia seguinte. Queria conhecer ao menos um pouco, a rota
ciclística Vale Europeu.
Este seria o último trecho de surpresas depois de quase
encalhar no meio do mato.
Continuação, parte final.
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