quarta-feira, 20 de maio de 2020

TEREI UMA CAMINHADA PARA RECORDAR?...


UM REGISTRO PESSOAL e DESPRETENSIOSO, SOBRE O FILME: 

A WALK TO REMEMBER – UM CAMINHO/UMA CAMINHADA PARA RECORDAR
OU UM AMOR PRA RECORDAR 

            “...Um homem deve viver uma vida que possa ser contemplada...  (Henry D. Thoreau)

      Dezoito anos após ser lançado eu assisti ao filme por indicação de uma pessoa que provavelmente teve a sensibilidade de perceber o quanto nele há, além do romance...Interessante o título brasileiro, que foca no romance, apesar do contexto todo ter grande significado.

     Algumas coisas me tocam sobremaneira. Isso não é crítica, nem análise. Tampouco algo no estilo acadêmico. Quero que fique aqui apenas! Talvez me faça lembrar ou sentir as mesmas coisas; não sei daqui há quanto tempo!
      Imagino ser coisa triste e sem graça, passar dias, meses, anos talvez, lá no final do nosso tempo, sem ter algo a contemplar! A relembrar! A reviver mesmo que por leitura ou fotografia!

     Acredito que Thoreau ficaria encantado com o conteúdo desse filme. Consegui ver muita relação com o seu livro Walden – ou a vida nos bosques, principalmente quando nos diz que uma pessoa deveria viver de tal maneira que, ao final, sua vida fosse possível ser contemplada!
     Contemplada! No seu sentido real mesmo... de algo que te atrai de modo diferente do observar. Quando contemplamos, vamos além da observação superficial! Então penso realmente se a caminhada que fiz/faço, se tem nela algo que pode ser contemplado! Contemplamos quando encontramos algo realmente vivido e registrado nas maiores janelas light possíveis, segundo Augusto Cury, por nossas emoções! Seriam de fato aquelas memórias de momentos significativos.

     O garoto daquele jeep tão bacana e que depois pula da rampa, não, ele não foi bobo. Esse momento nos revela um jovem puro, que confia nos amigos. Diria mais, que está disposto a fazer o que a “tribo” peça, para que possa fazer parte dela e se sentir parte de um grupo, incluso!    Garoto sem maldade, polido, ingênuo! Me causa um pouco de emoção porque meu filho é assim, puro e ingênuo, não menos do que verdadeiro! Confia... dada a inocência. Não tem maldade como a grande maioria das crianças não possuem.

     É interessante como encontramos nos agrupamentos, pessoas que precisam de afirmação perante as outras. Que precisam de palco, de plateia! Que precisam ser notadas, alimento ao seu Ego. Então você tem essa sensação que repugna também em determinados momentos, na fictícia realidade.

     No passado todos temos erros, pecados, tolices, comportamentos que talvez hoje tivéssemos diferentes, mas que ficaram indeléveis. Contudo, deixa a mensagem da mudança interior principalmente. Como ocorre com Carter! Porém ao meu ver isso não é o principal, ainda que importante. A essência está em Jamie!
     Jamie, a moça que tinha apenas um suéter! Notada e ridicularizada pela tribo de Carter, como quem usava sempre as mesmas roupas, se sentava isolada nas refeições e distante do local dos mais inteligentes! A garota que era filha do reverendo e carregava o diário da mãe! Que construíra seu próprio telescópio e sonhava em testemunhar um milagre... não sabendo ela que seria capaz de o fazer, quando percebeu a bondade sufocada no coração de Carter, antes congelada na frieza dos sentimentos e adormecida na escuridão envolta das bebidas, das drogas, do sexo banalizado...

     A filha do reverendo talvez pudesse se encaixar numa relação com outro pensamento de Thoreau, onde nos alerta para que “tenhamos cuidado com as oportunidades que aparecem, mas que nos exigem roupas novas para tal”...   
     Perceba que ele não está aqui nos dizendo para não comprarmos roupas novas. Ele está nos colocando que podemos ser mais simples! Usar o que temos até que esteja ainda útil! E também nos alerta ao passo que se formos o tempo todo exigidos em nossas vestimentas, cuidado, talvez essa oportunidade pode se transformar em uma armadilha. Ou seja, ele critica aqui o fato de muitas pessoas trabalharem para manter um alto padrão de vestimenta, sendo mais importante o exterior do que o interior! A reflexão dele é nesse sentido! A parte interna deve se sobrepor a externa em caráter de importância.

     Aquela moça não tinha uma única roupa. Muito menos o que encena pretende incentivar a nos vestirmos apenas com a mesma blusa durante todo o outono! O que ela encena é a simplicidade! A naturalidade! Ser quem você realmente é, entende? Sem a menor pretensão de impressionar ninguém, senão pelo que não há como disfarçar! A personalidade. A forma natural do agir. Ou, do não agir.
     
     Em certa passagem, Thoreau nos pergunta como seria possível distinguirmos qual seria o homem rico e qual o pobre, se ambos estivessem totalmente despidos frente ao observador! É realmente algo a se pensar!...
     Ela está doente, por isso seu único pedido era que ele não se apaixonasse! Mesmo que isso fuja ao controle como um trem desgovernado. Ela não queria causar sofrimento. Mais do que já tinha. Não queria especialmente magoar outra pessoa!
     
     Penso como isso é importante e o quão difícil é percebermos em meio a tantos aplicativos e redes de relacionamento dos “encontros casuais”. Músicas, novelas, séries, filmes, vivemos uma onda cada vez maior de promiscuidade e pornografia desmedida, a vulgaridade parece que toma conta de tudo, cada vez em espaços mais públicos e sagrados, como as mentes infantis!
      Pensar no sentimento que o outro pode ter, além do nosso próprio egoísmo.  Acho que foi o que ela quis, proteger aquele garoto inicialmente tão mesquinho, frio e rebelde...
     Aquela rebeldia, que escondia o sofrimento pela ausência do pai. Cidadão bem sucedido. Mas que não soube cultivar o mais importante de tudo, o coração do próprio filho.
   Não, ela não era estranha nem depressiva. Mas um ponto fora da curva. Jamie gostava absolutamente de conversar, mas o grupo com o qual ela conseguia fazer isso desde que não sobre futilidades, era reduzido.
     Ela já sabia que o câncer a tomara e estava se preparando. Carter ajudou a tornar alguns de seus sonhos ou “goals”, realidade!  Realmente são cenas bonitas de se ver! Eu admiro a sensibilidade dos produtores de filmes como esse.

     Por vezes fico divagando, penso no que eu mudaria em meus hábitos se soubesse quando exatamente seria minha finitude. Tornaria isso possível maior solitude?... Há algo aqui que se parece muito com o que registrei anteriormente.
     Jamie era verdadeira e não queria mais da vida do que a própria verdade! Isso encontra novamente Thoreau, onde escreve: “mais do que amor, dinheiro e fama, dê-me a verdade!
Seria a verdade o caminho para o sentido das coisas?... Acredito que o Mestre já nos respondeu isso!

   É provável que Jamie tivesse herdado a sensibilidade da mãe, quando esta registra em seu diário:

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.

Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.

O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade (grifo meu).

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Coríntios 13:4-7