Antes, um ano não muito fácil! Aos poucos a motivação...
Entre as inúmeras possibilidades de você utilizar seu tempo,
pessoas escolhem as mais diversas coisas. Normalmente em períodos de final de
ano há um grande movimento em direção às praias, de pessoas que buscam um
pouco de tranquilidade, recarregar as baterias, deixar as tensões do ano que se
passou e buscar renovação para outra etapa de um cotidiano de trabalho e estudo. Bom, não era isso que eu estava pensando, quer dizer, para este destino, geralmente superlotado de pessoas.
Tenho passado, desde janeiro de 2016, os meus dias no
trabalho como educador e aos cuidados do meu filho, Heitor, que desde o
divórcio dos pais, tem estado períodos da semana com o pai e a mãe. E tenho
tido alegria imensa com isso, pois pude fazer com ele, coisas fantásticas, ao
meu modo de ver! O princípio de muitos momentos, que eu irei fazer grande
esforço para tornar realidade.
Como deixei registrado na postagem anterior,
onde visitamos o pinheiro gigante em São Joaquim, não fora um ano dos mais
fáceis pra mim. Inúmeros momentos de tristeza. Readaptação. Busca interior...reformulação de projetos de vida, abandono de alguns sonhos e resgate de outros!
Dez meses de tratamento com um psicólogo talvez possa indicar até onde se desenvolve o redescobrimento de uma personalidade, numa forma diferente de ver o seu EU. E agradeço de coração ao Silvino Schmitz, psicólogo e parapsicólogo, pessoa já
conhecida da família, que aos poucos foi se tornando um bom amigo e conselheiro! Um amigo fiel.
Bastante leitura. Entre elas alguns livros de Augusto Cury,
que por sinal me ajudaram muito! Conversa com pessoas amigas, apoio de
familiares e principalmente, o apego do meu filho, fora me carregando novamente
e aos poucos fui projetando algumas coisas para fazer durante cerca de uma
semana, na passagem para o ano novo, onde eu estaria, digamos, sozinho...(levar o Heitor ainda seria muito cansativo para ele, no estilo de viagem que eu costumo fazer).
Desse modo, duas semanas antes, passei a mão num rascunho
que havia feito há algum tempo. Uma rota pelo Rio Grande do Sul, com retorno
pelo litoral catarinense. Voltei ao Google, reavaliei a rota, breve pesquisa,
elenquei meus objetivos em cada lugar e defini. É isso. Passarei uma semana na
estrada. Meu carro serviu de meio de locomoção, valente, devo reconhecer, pelo
trecho que enfrentou sem reclamar, de lama, pedra solta, riachos, buracos e
costelas de vaca pelos caminhos de interior...
Em resumo, essa viagem me motivava por várias questões. Uma
delas é o sentimento de liberdade que se desenvolve na gente. A cada vez que
você se encontra viajando, e destaco aqui uma viagem fora dos padrões
convencionais de excursões em grupo. As viagens solo, ou em resumidas
companhias, elas são diferentes! É como se você fosse reconectado ao mundo, de uma forma mais próxima ao sentido da sua existência.
Por outro lado, minha missão como educador e o amor que
tenho pela profissão que exerço, me enche de inspiração em conhecer o máximo
possível dos lugares, dos espaços, sobre os quais nós falamos em sala de aula, as referências... as curiosidades...as paisagens...
O caminho em si!...
Tenho feito ainda pouco. Já li bastante. E uma mini
biblioteca de livros de viajantes, relatos, histórias, comprovam um sentimento
comum. O caminho tem um poder incrível... não tanto o teu objetivo final de
chegar em determinado lugar, naquele ponto!
É o caminho! Por ele as pessoas buscam ou deixam. Buscam renovação,
energia. Deixam mágoas, como se a estrada que fica e que vai na direção
contrária pelo retrovisor, tivesse o poder de levar coisas ruins que de repente
você leva em tua bagagem, sem querer! E como se fosse possível, a estrada que vem, o novo caminho, trazer novas expectativas, ou simplesmente um motivo para contemplar ou apenas sorrir.
A prática pedagógica diferenciada quando possível, é algo
que me conquista. Penso que cada professor ou professora, à sua maneira, deve
encontrar um meio de tornar, de vez em quando, algo diferentemente atrativo nas
aulas. Que possa interessar os estudantes de uma outra forma, ou que,
simplesmente, possa suscitar alguma conversa interativa, um bate-papo
descontraído e uma aula leve! Sem a pressão comum curricular que normalmente as
salas de aula impõem sobre a cabeça dos jovens. E os professores, em grande parte, assim como eu fiz erroneamente durante algum tempo, martelam na cabeça das crianças, como se empurrar conteúdos e ensinar fórmulas de decoreba para provas de vestibular, fosse resumir a palavra APRENDIZAGEM. Este professor definitivamente, morreu em mim faz alguns anos e eu estou feliz por isso.
Então eu procuro, na medida do possível, conciliar algumas
viagens ou passeios, com a elaboração de algo que possa ser compartilhado em
minhas aulas. Nesse caso procuro me enquadrar mais ou menos como um professor
aprendiz, absorvendo algumas informações que julgo interessantes e com algumas
imagens e vídeos amadores, elaboro vídeos simples, de acordo com meu resumido
conhecimento em informática e edição. Desse modo, conforme conteúdos trabalhados em
sala de aula, na ocasião em que se relaciona, compartilho a experiência com os
jovens, os quais na grande maioria, reagem muito positivamente! Um ou outro até
passa a tomar gosto por “aventuras” nesse sentido.
Perante isso tudo, me senti bem e apto a voltar a fazer algo que me encanta desde a infância. Viajar para conhecer!
A viagem
Meu objetivo na primeira parte: percorrer parte da rota
paleobotânica no estado gaúcho. Nas proximidades de Santa Maria, coração do Rio
Grande do Sul, encontram-se os municípios de São Pedro do Sul e Mata. Essa
região, é um dos lugares do Brasil e até do mundo, onde se encontra vestígios
fósseis, animais e vegetais, que remontam ao período Triássico, remetendo à uma
época de 200 milhões de anos. Onde o próprio mundo tinha uma configuração
diferente em termos de continentes. Época em que a América do Sul ainda em conjunto com a África e as demais terras, formavam um único grande continente, Pangeia, ou Gondwana.
Durante milhares de anos, essa região se tornou uma
importante bacia sedimentar (bacia sedimentar do Paraná) e aos poucos, por
assim ser, foi sedimentando inúmeros exemplares de plantas e animais, que por
algum motivo, ficavam soterrados sob a ação de minerais trazidos pela água.
Esses minerais, por sua vez, agiam sobre a própria composição animal ou
vegetal, substituindo aos poucos a matéria orgânica pela matéria mineral, num
processo que envolve bastante a química. Portanto, essa experiência é
multidisciplinar e envolve várias ciências ou disciplinas, se tratando de
contexto escolar.
Estudantes de universidades de várias partes do Brasil,
costumam fazer viagens para observar e
fazer estudos no local.
DE SANTA CATARINA ATÉ O CORAÇÃO DO RS
Iniciei essa pequena viagem no dia primeiro de janeiro de 2017.
Acordei cedo. Havia deixado minhas coisas prontas, roupas
(demais pra variar), comida, água. Veículo abastecido, pneus calibrados, ou
seja, tudo ok.
Saí da casa dos meus pais por volta das seis horas da manhã
do dia primeiro. Quase ninguém na estrada. Coloquei um som que gosto e me
deixei seguir.
Na verdade a terceira vez que iria cruzar boa parte do
estado vizinho do sul, então muitas das paisagens já não eram novidade. Parei
pouco. Passando novamente pelo planalto serrano catarinense, pampas e planalto
gaúcho, ora por grandes extensões de cultivo de grãos, fazendas enormes e
população escassa, ora por regiões de relevo mais acidentado, lembrando as
terras do vale e alto vale do Itajaí, de cultivo em menor escala e povoações
mais próximas.
No portal: NOSSA GENTE, NOSSA RESPONSABILIDADE! |
Toquei direto até meio dia, parei num posto de
gasolina com uma boa sombra entre árvores. Estacionei, caminhei um pouco pra
movimentar as pernas, comprei algo gelado pra tomar pois já estava bem quente!
Meu almoço foi um sanduíche que a mãe quis fazer para eu levar e uma maçã.
No porta-malas acondicionei numa caixa de isopor, várias
maçãs, uma boa penca de bananas, alguns chocolates e outras tranqueiras, além de
água. Dessa forma, o estilo de viagem que desenvolvo, principalmente sozinho é
esse. Almoço à base de frutas ou algo bem leve, bastante líquido. E à noite uma
janta mais reforçada. Deveria ser o inverso? Para o bem do corpo sim. Mas o
detalhe é que se você parar em restaurante, encher o bucho, com toda a calma e
comodidade o resultado é o seguinte: despesa imensamente maior. Tempo de viagem
bastante reduzido. E uma direção muito sonolenta depois, o que é muito
perigoso. Como no meu caso o turismo gastronômico não é o mais importante,
vou roendo maçã, comendo banana, tomando água. Isso deixa você acordado, com
energia e a viagem rende onde praticamente não há muito de diferente pra ver!
Em São Pedro do Sul
Cheguei ao final da tarde. Calor de derreter.
Cidade pequena, logo estava no centro onde existe uma praça
com bastante grama, sombra e muitos pedaços de troncos petrificados. Estacionei.
Umas voltas e logo estava conversando com 3 senhores que estavam num banco sob
uma árvore. Proseamos um pouco sobre a cidade, e já foram me dizendo que se eu
quisesse ver pedra mesmo tinha que ir pra Mata, cidade mais à frente. Comentei
que iria no dia seguinte, pois gostaria de conhecer as duas cidades e em São
Pedro pretendia ver um museu que também abrigava fósseis encontrados na região,
além da história local.
Foi fácil achar um hotel. Em pouco tempo estava acomodado. Tomei
um banho e sai pra caminhar um pouco. Fui pra praça novamente e percebi que ali
era o ponto de encontro. Muitos se reúnem final de tarde. Fazem uma rodinha,
trazem cadeiras, conversam e tomam mate. Umas duas dezenas de jovens também faziam
isso. Fiquei pensando na diferença de comportamento em relação aos adolescentes
e juventude de um modo geral aqui onde moramos. Vão para as pracinhas, ou se
embebedam de coca-cola, ou levam os litrões de bebida alcoólica. Infelizmente isso
é comum ver. Depois ainda deixam o lixo, copos e litros jogados, isso quando
não urinam por ali mesmo depois de bêbados.
No dia seguinte procurei o museu, era segunda-feira. Fechado.
Me informei, não iria abrir. Motivo: não tinha ninguém para assumir ainda,
troca de prefeito, mudam os funcionários. É assim no país todo. Trocam os
caciques, e se favorecem os seus.
Praça central da cidade |
Mata RS
Sentido sul, este município é menor que o anterior. Porém,
preserva parte maior do acervo fossilizado.
Praças, quintais de casas, na grande maioria são
ornamentados com exemplares de troncos ou pedaços de madeira petrificada,
quando não o tronco quase completo de alguma árvore de centenas de milhares de
anos.
Percebi que nessa cidade, infelizmente, há um portal
interessante, porém bastante danificado pela ação do tempo e de vagabundos. Muita
sujeira e abandono em torno do portal de acesso à cidade.
Adentrando, porém, se percebe maior organização e
cuidado. O turismo tem sido atividade em expansão no local, desde que, há várias
décadas atrás, um padre local,
interessado e estudioso autodidata, passou a pesquisar e coletar material,
iniciando o que hoje é o museu da cidade. Antes do padre Daniel, me informaram
que as pessoas nem sabiam do que ali se encontrava. Muito se perdeu ou
fora destruído. A partir dele, aos
poucos, outras pessoas do país, e até do exterior, passaram a estudar os
materiais e dar as comprovações científicas de que aquilo, realmente era
vestígio de muito, muito tempo atrás.
No museu da cidade, aberto diariamente, há um acervo
interessante. Fósseis animais e vegetais. Incluindo objetos diversos, de
regiões diversas do país e do mundo. Objetos da civilização Asteca. Também
me impressionou uma dezena de urnas funerárias indígenas, datadas de cerca de
mil anos, encontradas em propriedades rurais da região. Lembram vasos de flor,
bem grandes, alguns decorados. Serviam para se colocar o corpo da pessoa morta,
em posição fetal, posteriormente enterrado.
Um atencioso senhor que trabalha no museu, me explicou sobre
a importância do padre Daniel para a existência do patrimônio de hoje. Muito antes
se destruiu, ou se roubou por parte de quem sabia do que se tratava e pelo
desconhecimento das pessoas locais, retiravam centenas de objetos da região,
espalhando-se pelo país e até para o exterior.
O maior réptil encontrado no Brasil, um Dicinodonte, achado
na propriedade de uma família em São Pedro do Sul, em 1929, hoje se
encontra num museu da Alemanha. Por que? Poderíamos perguntar! Na época estava
por aqui um paleontólogo alemão. Um especialista na área, coisa que no Brasil
ainda era difícil. Este pesquisador, conseguiu levar o fóssil praticamente
completo do animal, que media em torno de 3 metros de comprimento, por um de
altura, sendo posteriormente, retornado ao Brasil, apenas a réplica da cabeça. Esta se encontra no museu paleontológico Walter Ilha, entre São
Pedro e Mata, por onde estive, mas novamente encontrei portas fechadas.
Ao sair do museu depois de uns 40 minutos lá por dentro,
olhando e conversando, encontrei uma velha barbearia do outro lado da rua. Pensei, bom, já é hora de
cortar o cabelo, então vamos aproveitar. Ali descobri um senhor de 70 anos, antigo barbeiro da cidade. Curioso, aos poucos fui puxando assunto e fazendo
umas perguntas, respondidas de pronto pelo velhinho. Trabalho aqui há 40 anos
disse ele, conheço um pouco de tudo e praticamente todos me conhecem. Comentou comigo
sobre o padre Daniel, gente finíssima afirmou, pessoa ímpar. Querido por
todos da cidade. Está enterrado aqui mesmo disse ele, no cemitério perto da igreja.
Ele e o irmão dele é que começaram tudo isso, descobriram as pedras, passaram a
estudar, divulgar e organizar o acervo. Ali descobri que eram dois irmãos,
ambos padres! Os dois autodidatas na área da paleontologia. Pensei comigo, vou
lá! Quero visitar o túmulo dele e o barbeiro me deu as coordenadas.
Aqui é fumo e gado, um pouco de feijão e milho, comentou o
cabeleireiro quando eu pedi sobre o que faziam as pessoas dali, no que
trabalhavam além do comércio local. Mas a coisa aqui no Rio Grande tá feia! O governo
falido, a situação não é boa! A turma tá reclamando bastante. Violência, não sei onde vai
parar disse ele. Rápido ele terminou o serviço, já era praticamente 11:30,
paguei dez mangos pelo corte e me despedi.
Fui para o carro, meu destino era certo. Visitar a igreja
local, o túmulo do padre, o sítio paleontológico. Peguei uma maçã.
Em poucos minutos estava em frente a igreja. Decorada com
madeira petrificada e um locomóvel (máquina antiga à vapor).
Encontrei facilmente o cemitério, na encosta de um morro bem
alto. E o túmulo dos dois irmãos padres, ornamentados com pedaços de madeira
petrificada, e um dizer interessante ao fundo. Muitas velas indicavam que era
frequente a presença de pessoas no local, o que confirmava a aceitação dos
padres entre as pessoas da região.
Já era meio dia quando subi para o jardim, ou sítio
paleontológico de Mata. É um dos atrativos principais pois ali estão centenas
de exemplares de árvores petrificadas em seu lugar e estado original. Ou seja,
ninguém mexeu ainda, afloraram e o lugar passou a ser preservado, virou uma
espécie de parque. Quem vê de longe é um pasto comum cheio de pedra. De perto,
se nota que não são pedras comuns.
Então você está ali. Em meio a uma floresta petrificada. Que
era viva há 200 milhões de anos. Que pode esconder ainda, logo abaixo dela,
outros registros importantes.
Você está e pode tocar em materiais que presenciaram as
maiores transformações do nosso planeta, a deriva dos continentes, o surgimento
e extinção dos dinossauros, as mudanças climáticas naturais, as diversas
civilizações!
É um exercício de imaginação! Um atrativo especial e
interessante, curioso. Valeu a pena, com certeza!
Então sob um sol escaldante, fui saindo da cidade, sossegada e
com movimento tranquilo.
Meu destino agora, era retornar para a capital, Porto
Alegre, cruzando dezenas de outros municípios pelo caminho! Lá encontraria
outros atrativos e algumas surpresas ruins.
Continuação, parte II
2 comentários:
Muito interessante ,parabéns
!
Muito interessante,parabéns!
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