Era
década de 90. Ligado nos novos modelos de bikes, aos meus 14 anos quis trocar
de magrela. O sonho era uma de 18 marchas! Novamente, meu pai me levou para
escolher a nova bicicleta, lembrando que não deveria ser muito cara, dada as
nossas condições. Bati o olho numa “Caloi Aluminum” azul, e não tive dúvidas.
Depois de dar umas três voltas ao redor dela, o maior trabalho foi convencer o
pai de pagar 400 reais e depois ainda em
casa, convencer a mãe de gastar tanto numa bicicleta. Sempre ajudei meus pais e
com os trocados que ganhava equipava a zica, e era a mais completa no nosso
grupo: pedaleira, cantil, porta objetos, refletores de luz, “chifrinho”, e até
velocímetro (que era a maior sensação). Tudo isso mais luvas e óculos próprios.
Era bem bacana, e modéstia a parte, meu capricho também, bombril nos raios com
frequência e sempre encerada!
De
zica nova e a empolgação à mil, fiz umas aventuras, sempre acompanhado de
amigos. Em especial um deles, chamado Amilton Lourenço, que era inseparável!
Pedalamos muitos quilômetros juntos, conhecendo novos lugares em cidades
vizinhas.
Com essa bike, fomos inúmeras vezes para Pouso Redondo, que ficava a 12
quilômetros (ida) de onde morávamos, outras tantas a Mirim Doce, Taió, Rio do
Oeste, Laurentino e uma vez a Salete, para conhecer o Santuário. Lembro que
saímos num domingo às 5 da manhã, tomamos uma coca em Taió e após muitas
pedaladas, chegamos ao Santuário perto do meio dia. Lá pegamos as mochilas, um
puxava cuca, outro carne, o outro pão e assim fizemos nosso rango enquanto
contemplávamos lá de cima a bela paisagem do município de Salete. Logo rumamos
de volta e ao cair da noite estávamos em casa, exaustos após aquele domingo de
pedaladas e novas emoções.
COMPANHEIROS
DAS BICICLETADAS...
Desses meus companheiros de bicicleta ainda faziam parte o primo Adenir
Cristofolini e Claudinei Tomio. Os projetos que tínhamos de subir a serra em
direção a Otacílio Costa e Lages acabaram ficando somente nos planos, a idade
ia chegando e os amigos indo para destinos diferentes. Lamentavelmente meu
amigo Amilton foi conhecer a eternidade ainda jovem, vítima de um violento
câncer, que em princípio lhe tirou a perna direita e depois de recuperado e com
prótese, a doença retornou aos pulmões e lhe matou. Pela primeira vez senti a
perda de um amigo. E prestei atenção na mensagem da morte!
Lembro ainda hoje de um fato engraçado: num domingo, quando fomos de bike à Rio
do Oeste assistir uma corrida de motos, o rapaz estava incomodado com o seu
banco que não ficava mais no lugar desejado, o parafuso não segurava.
Esbravejando, tirou uma chave da bolsa e passou a apertar com um pouco mais de
vontade. Eu já tinha avisado pra ele parar que ia espanar a rosca. O miserável
não quis saber deu mais duas voltas na chave e não deu outra, espanou! Teve que
voltar até em casa ( uns 30 km) pedalando com o banco na altura mínima, que o
fez perder bastante desempenho. Não bastasse esse incômodo, voltando por um
atalho em estrada de chão, o azarado ainda me atropela uma galinha e a leva de
arrasto uns 8 metros enroscada no câmbio traseiro, foi pena pra todo lado. Não
me aguentando, tive que me encostar no barranco de tanto que ria! Por sorte,
sem problema maior.
Hoje, lembrando
de tudo, tenho saudades. Jamais poderei reclamar da adolescência que tive. Nem
dos amigos com os quais convivi. Pena que vamos crescendo e perdendo os
contatos.
Como
sempre, a morte vem acompanhada de reflexões aos que aqui ficam, justamente
sobre como levam a vida, o que esperam dela e o que fazem com ela enquanto a
possuem!
Tenho ainda essa bike, que após quase 10 anos parada dentro de um rancho,
passou por uma pequena reforma. Quase que a vendo por uns trocados, ideia que
abandonei pelas lembranças que me proporciona.
Caloi Aluminum, minha 2ª bike de marchas, agora sem a maioria dos acessórios que dispunha. |
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