Há três anos minha vida tem sido ocupada com o
trabalho na escola e a atenção ao meu filho. Depois do término do meu casamento
em janeiro de 2016, o que realmente estava em minha cabeça era a busca de minha
independência. Queria um lugar próprio, sabia que eu o merecia. E jamais o
pensei desconsiderando meu filho Heitor...
Durante praticamente quatro anos (com exceção do que fiz
brevemente em início de 2017), minhas viagens resumiram-se entre Pouso Redondo
e Agrolândia, cerca de 90 km, ida de volta. Para trabalho.
A aquisição de um apartamento se
desenvolveu em um processo longo de espera, frustração, perdas financeiras,
esgotamento emocional em virtude da mentira e da falência de uma pequena
construtora, que, após não terem como me entregar o apartamento,
abandonaram a obra, em meia viagem, e o pior, com muita coisa mal feita. Isso
no ano de 2019. Se foram vários
meses de dor de cabeça.
Hoje, meses depois, posso dizer que conquistei a dignidade
de ter um lugar para morar e chamar de meu. Cerca de 60 metros quadrados,
incluindo especialmente um quarto para meu filho.
E como a imensa maioria das pessoas, eu pensava... quero fazer
este local do meu jeito. Não sendo grande, precisa ser planejado, todos os
ambientes. Assim o fiz...
Sabe, eu não considero isso arrependimento, mas
talvez eu fizesse escolhas diferentes hoje.
Ou pelo menos, farei daqui para frente!
Por muitas coisas eu paguei caro. Por outras também, porém com dinheiro que de todo não
tinha. Então o que as pessoas fazem? Fazem empréstimos, nos bancos ou com algum
familiar próximo. Buscam o dinheiro que não possuem, para ter as coisas que
querem. Depois passam um tempo pagando por algo que ainda não é seu, e, quando
o for, quem sabe já perdeu até aquele significado especial de satisfação
ilusória.
Está tudo ok aqui, bonito até, aconchegante, como eu queria
que fosse. Mas as vezes penso... Quanto do meu tempo darei para tornar isso
tudo pago? Não quero pensar em dinheiro,
mas em tempo! O quanto da minha vida em horas, dias, meses, anos, darei para
pagar por todas essas coisas!
Tenho 39 anos nesse momento. Desses, só encontro na minha
adolescência, até mais ou menos os 18 anos, uma vida mais desprendida. Mas não
tanto, porque via meus pais trabalhando feito loucos para proporcionar a mim e
a minha irmã, um futuro.
Trabalhei durante toda a minha faculdade de história. Era o
que mais se parecia comigo quando me imaginava fazendo algo. Tentei antes por uns meses trabalhar numa
empresa e fazer um curso de comércio exterior.
Era um bom caminho para ser bem sucedido, entende? Cumpria meu horário,
era dedicado, nunca faltava. Começava às cinco horas da manhã. Só saía da
empresa perto do fim da tarde. Depois ônibus até a faculdade. Retorno perto da
meia noite. Tudo de novo no dia seguinte.
Aos finais de semana, ia até a casa dos meus pais. Procurava
um canto na varanda ou na calçada e lá ficava. Todos notavam que ali estava um
jovem deprimido, eu não tinha vinte anos!
Depois de pedir a conta e mudar de faculdade, mudar de
curso, concluí minha graduação trabalhando durante dois períodos, manhã e
tarde. Estudava de noite. Restando meus finais de semana para trabalhos,
leituras. Divertimento? Não muito. A cobrança que faço comigo mesmo é grande e
permanece até hoje. Preciso ser correto ao máximo. Não conseguiria gastar meu dinheiro
em festas ao mesmo tempo que meus pais trabalhavam para me ajudar a estudar.
Terminei a faculdade. Fiz concurso público. Passei. E não
nego que fiquei muito contente. Ser concursado e ter estabilidade te conforta.
Às vezes até demais. Muitos procuram
isso hoje. Uma renda garantida, para poder financiar com segurança seus belos
carros, lindas casas....
Quantas pessoas estão terminando de pagar seus imóveis aos
50, 60 anos?...Quantos desses imóveis, ao final não terão custado o dobro do
valor de mercado?
Quem sabe seja por essas situações que tanta gente faz de
tudo para se dar bem o quanto antes! Não é?
Conseguir acumular ou ganhar o máximo de dinheiro possível, faturar ou
seu um milhão logo entende, pra desfrutar de tudo isso antes de estar velho. E
convenhamos, tirando o dinheiro sujo, há quem consiga isso sim, e são
muitos! Mas qual o preço que pagam para
serem tão bem sucedidos já novos? Qual o
tempo que pagam para serem homens de negócios com faturamento de cem mil ou
mais por ano? O quanto essas pessoas deixam de saber sobre as belezas do
mundo.... o quanto deixam de desfrutar de pequenos momentos com seus filhos!...
O quanto podem ficar em casa ou sair num final de semana sem estarem todos os
instantes ao celular?
Assim fico pensando, quantas armadilhas a vida moderna nos
coloca?
Formado, passei a ganhar meu salário que durante bom tempo
foi gasto em gasolina, prestação de carro, manutenção. Mais tarde o casamento,
então móveis, outro carro...logo o filho! Nunca passei necessidade. Mas parece
que nunca ganhamos o suficiente, sabe por que? Porque o fato de querermos
coisas, comprarmos coisas, cada vez melhores, mais bonitas, na verdade, é mais
para nos presentearmos como se estivéssemos dizendo: olha, veja como vale a
pena! Tudo o que consegues!
Mesmo que o
vazio interno não seja preenchido. As propagandas, o consumo, a vida moderna,
nos fazem cada vez mais consumidores compulsivos. Pessoas precisam comprar algo
para sentirem-se bem. O valor das coisas
hoje, parece que não está no fato de simplesmente possuir, mas do que elas nos
fazem sentir possuindo-as. Talvez você
não tenha aquele prazer todo em dirigir um carro de 200 mil reais. O prazer maior é a sensação de estar dentro
daquele veículo perante as outras pessoas.
Então você paga pelas sensações que quer ter a partir dos bens
materiais.
Pensando essas coisas, posso entender um pouco o que
levou o jovem americano Christopher J. McCandless a fazer quando tinha pouco
mais de vinte anos. O livro que conta sua história, Na Natureza Selvagem, é uma
obra de significado especial. Sim, pois qual jovem de classe alta, com carreira
promissora, pais bem sucedidos, abandonaria tudo para se conectar de fato ao
mundo e encontrar nisso um sentido real? Quem hoje, queimaria o seu próprio
dinheiro e abandonaria seu carro?...Um louco?...
Certo, então o que queres dizer é que temos que jogar nossas
coisas fora e não comprar mais nada, ou quem sabe viver nas ruas feito
andarilhos? Bom, penso que se alguém um
dia estiver lendo isso, acredito que tenha a maturidade o suficiente para saber
que não, não é isso que estou dizendo.
Considero que o consumo em certa medida é sim muito
importante. Hoje olho para minha casa e
penso, o que disso tudo talvez eu não precisasse?
Sabe, é isso! Eu estou bem com meus quatro pares de sapatos
e dois chinelos. Sobra espaço no meu
guarda-roupas e eu estou bem com isso. No
entanto, equipei minha casa de uma forma que talvez não fosse assim tão necessário. Porque nós somos influenciados, queremos
sempre algo bonito, caprichado, não nos importamos no início geralmente, em até
pagar caro por isso. Aí você faz tua sala e tua cozinha planejadas, então quer
um fogão bonito, mas também vão te indicar uma coifa que combina! Ei, seu forno e micro-ondas, faz embutido né! Fica
tão lindo. Então você quer uma mesa bonita também, com cadeiras legais. Um lustre
ficaria bom, bem no centro. Aquele rack para tv, tv grande claro. Abajur? Talvez
um na sala e outro no quarto. Tapetes, cortinas sob medida também e aquela
iluminação legal no teto de gesso. Talvez isso te custe uns dois conto e pouco
só de lâmpadas, mas já que está no projeto tão caro que o arquiteto executou,
então faz.
O que mais eu posso colocar que demonstre a minha força
feminina, ou a minha masculinidade?...Uns quadros e essas banquetas talvez... E
no final, as cifras são grandes.
Eu diria que da minha casa hoje, eu pudesse escolher pelo
menos 20 por cento de coisas a menos no geral.
Apesar de que gosto dela e seja bem funcional. Essa questão é extremamente importante, você
gostar do que tem com o tempo que investe para consegui-lo. Realmente estar de
bem com aquilo. Acho que aí tudo certo!...
Isso tudo que estou registrando, sinto vontade de fazer pois
logo que concluí o livro de McCandless, quis rever o filme. Não achei mais na Netflix. Porém foi sugerido um documentário na tela,
chamado MINIMALISM, a documentary about the important things. E isto me
impactou sobremaneira. Ver que pessoas estão fazendo escolhas porque não
aguentam mais viver sob tanta pressão que a sociedade moderna nos coloca. Estão escolhendo ter menos e viver mais. Estão
escolhendo ganhar menos e sentir mais. Estão
escolhendo ter mais tempo livre! E isto me interessa em particular...
Acompanho muitos vídeos, gosto absolutamente de um canal
chamado CHEAPRVLIVING - BORN TO WANDER, onde ao mesmo tempo em que forço meu listening captando
algumas palavras em inglês, vejo como são tantas as pessoas que tem adotado
novos significados em suas vidas! Depois
de algum ponto de ruptura! Que pode ser
uma perda familiar, um divórcio, a falência, o desemprego, o despejo... e, quem sabe o esgotamento emocional, um burnout que pode te despertar, como aquele princípio de infarto talvez, ou aquelas, longas noites quando você acorda suando sem saber o motivo, a companheira insônia, esgotamento psíquico! E..., é incrível
em séries e séries de entrevistas, ver o quanto as pessoas se sentem felizes em dizer: sim, eu estou
definitivamente feliz aqui, morando nesta van, nesse trailer, nesse motorhome,
até mesmo nesse carro! Em unanimidade, dizem não, eu não voltaria a vida que eu
tinha antes! Eu quero uma vida mais simples e tranquila!
Em novembro deste ano (2020), farei quarenta anos de idade. Esse
humilde blog, tem sido pensado em registrar passeios, pequenas viagens, que
quase não são mais feitas! Mas continuo inquieto, tenho em mente fazer algo em
breve, quem sabe adquira uma van nos próximos anos. Pretendo levar meu filho a
alguns lugares.
Estou realmente buscando mais sentido para os próximos anos
da minha vida. Acho que todos queremos essa serenidade, a sabedoria de fazer as
escolhas mais corretas, para termos uma vida plena, feliz e agradável à Deus!
Há dois anos, um grande amigo meu, pouco mais novo, deu
fim a própria vida. E eu escrevo do lado da casa dele. Vendo tudo o que tinha,
uma boa casa, esposa, filho, carro novo e um bom salário. Tudo o que o “sonho
americano” nos coloca como padrão de felicidade e realização. Posso dizer que meu amigo, era bem sucedido. Mas isso o tornava também, feliz?
O Quanto pensei no dia do seu enterro... o quanto penso
hoje! Por que?...O quanto não sabemos para sermos tão tolos e viver de fato tão
pouco? Sendo tão infelizes por dentro!
Por que pessoas que estão em estágio final de suas vidas,
doentes nos hospitais, por que todas elas nos falam de que queriam ter
aproveitado mais, trabalhado menos, estado mais com seus amigos, filhos, pais,
irmãos...? E nós não entendemos! Nós vamos ao velório do nosso melhor amigo, o
vemos morto, tão jovem. O vemos tirar a própria vida perante as pressões desse
mundo, choramos. E dois dias depois estamos nos nossos trabalhos, como se quase
nada tivesse acontecido!
O quanto não sabemos sobre o significado
de partir, de morrer! E de viver!
O quanto eu ainda não sei sobre o que realmente importa?...
Agrolândia, abril de 2020.